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domingo, 12 de fevereiro de 2012

O (des)arrumar dos lençóis

Deito-me do lado direito da cama. Ele, no esquerdo. No início dividíamos a tarefa de arrumar os lençóis. Com o passar do tempo, passei a fazer isso sozinho. Não por falta de vontade dele. Mas por hábito meu, que deito e acordo antes. Sou eu quem faço o convite quando o sono chega. Antes confiro o relógio da tv, mudando os canais e torcendo para que nenhum programa o desperte. Então faço o convite. Ele pergunta que horas são. Confere por si mesmo, e se espanta como o tempo passou. Solta um suspiro de resignação.

Eu, que já escovei os dentes e lavei o rosto, sigo direto para o quarto. Já ele cumpre todo um ritual. Costuma ir primeiro à cozinha buscar seu copo de água, que fica ao lado da cama e por vezes faz companhia aos copos e xícaras de noites anteriores. Eu cuido para que as luzes do quarto estejam acesas. Apago assim que ele vai ao banheiro. Ocupo o espaço da cama que me cabe, aquele em que as cobertas não estão presas ao colchão – o dele é o outro, que mais parece um casulo. Impacientemente aguardo por ele, ao som da torneira aberta.

Assim que a água deixa de cair e as portas rangem, me aprumo. Ele caminha pelo vão estreito entre a cama e a parede. Senta na beirada. Toma sua água. Solta mais um suspiro. Ajusta o despertador. Confere se as cobertas estão presas do modo que gosta, e, finalmente, se deita. Eu não durmo sem uma troca de “boa-noite” e um beijo. Ele sabe disto, mas às vezes, algumas de propósito, outras de pura distração, talvez, simplesmente fecha os olhos. Zangado, dou-lhe as costas. Ele nem percebe, ou finge não perceber. Viro daqui e dali. Até que desisto e faço o que esperava que ele fizesse. Ele me abraça. Eu sorrio.  Está tudo bem. Pomo-nos a dormir.

Alguns escritores, como americano Herman Melville, autor de Moby Dick, afirmam que não há lugar melhor que a cama para confidências. “Há casais que conversam sobre os tempos passados até que os surpreende o amanhã.” As nossas são feitas em silêncio, com o roçar de pernas e o alisar dos braços. E por vezes ocupamos a cama toda, sem lados direito ou esquerdo. E desarrumamos os lençóis. Juntos.