Confesso: nunca fui a Paris. Não sei como são as águas do Rio Sena, apenas sorrio quando me falam das obras que guarda o Museu do Louvre, e não tenho registro fotográfico de mim no gramado da Torre Eiffel. Mais que o luxo da alta moda ou o requinte do champagne francês, interesso-me pelas produções cinematográficas, desde o menos popular La Tête en Frich até o grande clichê Le fabuleux destin d'Amélie Poulain. Todos vistos pela tela de cinema, é claro. À Paris, ou qualquer outra cidade francesa, nunca fui.
Não ter ido a Paris é um agravante. Primeiro porque estou mais perto da casa dos 20 que dos 30 anos de idade. E os jovens, bem, os jovens hoje precisam ir até Paris, Londres ou até mesmo Nova York para mostrar aonde querem chegar – mesmo que na maioria das vezes seja mais perto do que se pensa. A outra razão é que sou jornalista. Ou seja: podemos até ganhar um salário que implique no parcelamento da passagem e hospedagem, mas é obrigação saber falar sobre as viagens que se fez; se a Paris, melhor ainda. E o último detalhe, que faz toda a diferença: sou gay. E nós, gays, somos sinônimos de bem-viver. Quer mais bem-viver que Paris?
As filhas de um casal de amigos, ambas por volta de seus seis, sete anos de idade, já foram a Paris. A maioria dos meus contatos nas redes sociais, vide seus álbuns, também. Mas eu, veja só. Nunca. Nunca fui a Paris.
- De onde viemos? Para onde vamos?
Não me amole com estas questões. O que importa mesmo é ter ou não ido a Paris. Eu nunca fui. E sendo assim, minhas impressões de nada valem. Se só estive aqui, nunca acolá, como afirmar, convicto, se prefiro branco ou preto, o calor ou o frio? Só saberia tivesse ido a Paris. Sim, tivesse ido não estaria agora com a bunda sentada na cadeira, escrevendo sobre uma cidade onde nunca estive.
Ah, tivesse eu ido a Paris tudo seria diferente. Saberia a cor das águas do Sena; contaria aos desavidos, como eu, os detalhes das obras do Louvre; e reclamaria ao garçom o sabor do café.
- Nem de longe lembra os de Paris!
Teria sentado a bunda não nesta cadeira, mas em um banco parisiense. De preferência sentindo o gosto do champagne e contemplando a moda francesa. Honraria os jovens, os jornalistas, os gays. Mas confesso: nunca fui a Paris.