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sábado, 28 de junho de 2014

Corpos aquecidos



Hoje o amanhecer foi frio. Meu corpo foi meu termômetro. Em dias assim, uma parte específica do meu braço - entre o cotovelo e o ombro - é sentida de outra forma. É como se um pedaço de mim se mostrasse desprotegido; eu posso experimentar essa sensação ou então me agasalhar. Quem dera fosse assim simples lidar com outras fragilidades que se colocam à mostra, nossas e dos outros.

Um prenúncio do frio já se apresentava ontem. Nas duas vezes que saí de casa, usava menos roupa do que deveria. Para espantar o frio, ainda que momentaneamente, troquei o café pelo chocolate quente. O café desperta o corpo. O chocolate quente aquece, aquieta.

No Brasil, de três em três meses começa uma nova estação. Tudo muda e a gente se adapta às novas condições, assim como a vida. O calendário traz pra perto, quando menos se espera, o que estava distante. A proximidade implica em compartilhar. E não há nada que nos faça sentir mais vivos que isso, o compartilhar.

Enquanto o verão praticamente nos obriga à uma vida social, cheia de alegria e diversão, o inverno parece nos colocar mais em contato com nós mesmos. É como se a estação vestisse nossos corpos, mas desnudasse a alma. E para isso é preciso um certo recolhimento. Alguns mais, outros menos.

No inverno há pés que procuram por outros debaixo das cobertas, o parceiro que espera com uma sopa quentinha, as taças de vinho que deixam o armário. Há fricção de nossas próprias mãos. Há fricção entre diferentes corpos.


E aí eu lembro da minha cabeça buscando seu pescoço, de minhas mãos enlaçando e percorrendo seu corpo e de nós dois se aquecendo, um dentro do outro. Só não mais que o coração. 

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